Uma maneira de fazer política dura, intensiva, mas leal, com carácter. Eis a descrição política de Sá Carneiro. Um homem carismático, um homem de profundas convicções, o perfil de um verdadeiro líder.
Passados que estão 29 anos da sua morte, convém lembrar e fazer menção à questão do carácter como elemento dissociado da política e dos políticos dos dias de hoje.
O apego à verdade, à honestidade, à justiça, à coerência, à defesa intransigente do Bem Comum definem o carácter de toda e de qualquer pessoa. São as traves mestras da ética pessoal e da ética colectiva de uma qualquer comunidade que se reclame de civilizada. São valores intemporais que não mudam ao sabor das circunstâncias ou da força dos interesses conjunturais e mesquinhos que se consubstanciam, actualmente, no marketing oco da política.
O carácter é o valor intangível mais importante de uma figura pública que ocupa um cargo político. É pela avaliação do carácter de quem ocupa um cargo político que se avalia a credibilidade da instituição que representa. A falta de carácter dos detentores de cargos políticos debilita as instituições e corrói a arquitectura da democracia, destruindo irreversivelmente a engenharia social de uma comunidade.
Atento o actual status quo e, tendo como referência a lenda viva de Sá Carneiro, faz sentido deixar um ponto de reflexão sobre a importante e urgente avaliação do carácter de algumas figuras públicas que ocupam altos cargos políticos.
Nesta data, julgo e entendo necessário manifestar, em meu nome e em nome da JSD/Faro um voto de pesar e de profunda saudade não só pelo homem, mas pelo político de profunda envergadura que foi Francisco Sá Carneiro.
Para avaliarmos o seu pensamento, no seu primeiro discurso político, proferido numa sessão de propaganda eleitoral em Matosinhos em 12 de Outubro de 1969, Sá Carneiro afirmou:
“Desde a educação e futuro dos nossos filhos às nossas próprias condições de trabalho e de vida, desde a liberdade de ideias à liberdade física, aquilo que pensamos e queremos coloca-nos directamente ante a política: seja em oposição frontal à seguida por determinado Governo, seja de simples desacordo, seja de apoio franco. Porque somos homens, seres inteligentes e livres chamados a lutar pela realização desses dons na vida, formamos a nossa opinião e exprimimos as nossas ideias, pelo menos no círculo de pessoas que nos cercam. Mas se nos limitarmos a isso, se nos demitimos da intervenção activa, não passaremos de desportistas de bancada, ou melhor, de políticos de café. Creio que, se todos quisermos, podemos eficazmente aproveitar a oportunidade que nos é dada de obter as reformas necessárias sem quebra da ordem pública, sem atropelos das consciências, nem violências sobre as pessoas.”
Nada mais actual.
Finalizo deixando estas palavras:
"Cabe-nos cada vez mais dinamizar as pessoas
para viverem a sua liberdade própria, para executarem o
seu trabalho pessoal, para agirem concretamente na abolição das desigualdades. Para isso mais importante que
a doutrinação, é levar as pessoas a pensarem, a criticarem,
a discernirem"
Francisco Sá Carneiro
19/07/1934 - 4/12/1980
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