sexta-feira, outubro 8

Crise Ambiental ou Crise de Valores?

Pedro Abrantes, Engenheiro do Ambiente

A sociedade apresenta-nos diversas problemáticas, possivelmente devido a uma inversão de valores que se alastra actualmente: a família está em crise, verifica-se a obsessão monetária, o consumo insustentável, a qualidade no ensino passa para um plano secundário, o trabalho não é mais visto como um valor cultural.

Quem é responsável pela degradação dos nossos valores? Governo, empresas, cidadãos, organizações sociais? A responsabilidade é de todos nós! Todos nós somos responsáveis por um Portugal mais limpo, saudável, com mais biodiversidade, menos poluído e com mais qualidade de vida.


Existem várias formas de contribuíres, uma delas é o voluntariado. A grande maioria dos voluntários desta natureza desejam ajudar a resolver os problemas ambientais que os rodeiam, sentirem-se úteis e valorizados, fazer algo diferente de dia para dia. Para mim o voluntariado ambiental foi uma maneira de poder aplicar conhecimentos adquiridos na UAlg durante a Licenciatura e o Mestrado em Eng. do Ambiente adquirindo alguma experiência. Tornou-se uma maneira de ser, sem a qual já não me vejo existir. A origem poderá advir da educação, exemplos e valores que me foram sendo transmitidos pela minha família, desde pequeno. É gratificante saber que com pequenos gestos altruístas contribuímos para uma qualidade ambiental superior à nossa volta.

Deixo-te aqui um pequeno percurso ambiental de várias entidades voluntárias com quem tenho trabalhado. Em 2008 e 2009 fiz parte do NAMB – Núcleo de Ambiente da UAlg. Basicamente foi aqui que me iniciei de uma forma “oficial” no voluntariado ambiental.

No ano passado representei o NAMB no restrito grupo de trabalho do MDP – Movimento de Defesa do Pontal para defender uma das poucas matas verdes que ainda subsistem no nosso Algarve. Esta floresta encontrava-se na mira de um grupo de investidores Russos com intenção de construção de moradias e campos de golfe, o que tornaria este espaço exponencialmente mais pobre a nível de Biodiversidade (2010 é o Ano Internacional da Biodiversidade) e o restringiria a uma utilização limitada. Pertencente ao Parque Natural da Ria Formosa (PNRF), com uma área florestal de 627 hectares, o Pontal alberga as espéciesTuberaria major e a Thymus lotocephalus, únicas no Mundo, bem como a Armeria Macrophylla, a Scilla Odorata, o camaleão, o cágado-de-carapaça-estriada, a rã-de-focinho pontiagudo, o sapo parteiro ibérico, entre outras que se encontram em risco de extinção, integrando-se numa área com uma das mais altas taxas de diversidade biológica do continente europeu.

Integrei a equipa de Coordenação do Grupo Limpar Portugal para o concelho de Faro e Algarve, sendo que neste momento faço parte do Núcleo Regional Sul da Associação Portuguesa de Engenharia do Ambiente (NRS APEA), onde levamos a cabo acções voluntárias, por forma a sensibilizar, alertar e dar formação não apenas ao Eng. do Ambiente mas a toda a população em geral nas questões Ambientais.

Sou também um dos membros fundadores do GLOCAL, sediado em Faro no início deste ano, devido ao facto da Cimeira de Copenhaga ter ficado aquém das nossas expectativas ambientais, o qual achamos que através do GLOCAL podemos contribuir positivamente para essa temática. A denominação deste Grupo advém da necessidade de pensar Globalmente e agir Localmente, juntando as duas Global + Local = GLOCAL.

Sem o voluntariado não teríamos conseguido levar a cabo a petição “Pela Valorização do Pontal” e outras iniciativas que contribuíram para a preservação natural daquela floresta; no Limpar Portugal não teríamos conseguido recolher e valorizar 10000 toneladas de resíduos das nossas florestas com o auxílio de 100000 voluntários (1% da população portuguesa) em poucas horas por todo o país sem apoios monetários directos. Acredito que através do trabalho voluntário, é possível tornar Portugal num país melhor em todos os níveis – não para substituir o papel do governo, mas para complementá-lo. O Estado somos todos nós: cidadãos, empresas e governo. Apesar da falta de participação, da inversão de valores e de tantos outros problemas, os quais ambientais e económicos, muitos encontram tempo, disposição e energia para se dedicar a alguma causa ambiental.

Para reflexão deixo um pequeno testemunho… A Fábula do Beija-Flor

Era uma vez uma floresta onde lavrava um incêndio… Todos os animais fugiam, mas o Beija-Flor não. O Beija-Flor apanhava gotas de água de um lago e atirava-as para o fogo. Outro animal, em fuga, intrigado, perguntou-lhe: – “Achas que vais apagar o incêndio sozinho com essas gotas?” – “Sozinho, sei que não vou…”, respondeu o Beija-Flor, “mas estou a fazer a minha parte”.

A próxima grande iniciativa voluntária a nível nacional em que podes participar em qualquer local onde residas, é o Plantar Portugal, que se prevê para Novembro deste ano. Cada gesto conta… e neste momento no Algarve somos tão poucos que tu, sendo apenas 1, fazes toda a diferença.

Se podia ficar em casa? Podia, mas não era a mesma coisa!

Alguns exemplos de voluntariado ambiental os quais participo e/ou participei activamente durante os últimos dois anos e meio, para nos acompanhares e participares também:

NAMB - Núcleo de Ambiente da UAlg

MDP – Movimento de Defesa do Pontal

Movimento Limpar Portugal

NRS APEA – Núcleo Regional Sul da Associação Portuguesa de Engenharia do Ambiente

GLOCAL

Plantar Portugal


Autor e Fonte: Pedro Abrantes em

http://zoomarineblogue.blogs.sapo.pt/701593.html

Fotografias: Juventude Farense Rema em Defesa Urgente da Ria Formosa - http://jsd-faro.blogspot.com/2009/08/juventude-rema-em-defesa-urgente-da-ria.html

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns pelo Post, Pedro! E pela partilha da fábula do beija-flor que é, sem dúvida, um exemplo paradigmático de consciência colectiva;)
Lília