O litoral tem vindo a adquirir nas últimas décadas uma grande importância, pois apesar de toda a faixa costeira mundial totalizar somente 500.000 km de comprimento, nela encontra-se aproximadamente 80% da população mundial. Aqui, estão centralizadas as principais actividades industriais e os grandes focos de decisão política, económica e social a nível mundial. Estes factores, são em parte, os grandes responsáveis pelo “êxodo” migratório das populações que em busca de melhores condições de vida rumam ao litoral contribuindo assim para o envelhecimento, para a desertificação e para o abandono das regiões interiores.
O Algarve não é excepção e para além de se observar de forma clara o fenómeno anteriormente descrito, acresce o facto da população desta região praticamente triplicar nos meses de Verão, sobretudo com turistas que “visitam” as nossas praias devido às suas excepcionais características ambientais e paisagísticas, a que se alia as óptimas condições climatéricas.
No entanto, o litoral é uma zona extremamente sensível e dinâmica, estando sujeita a grandes variações e transformações num curto espaço de tempo, provocando muitas vezes uma convivência pouco pacifica com a ocupação humana devido em grande parte aos episódios sistemáticos de erosão costeira, galgamentos, assoreamentos, alterações sazonais dos perfis das praias e destruição de dunas.
Até à data, tem sido consentidos quer à industria hoteleira quer mesmo à expansão urbana de diversas cidades, um tipo de ocupação da faixa do litoral que proporciona rapidamente a degradação e a desvalorização da qualidade ambiental e paisagística através da construção exagerada e concentrada de vários empreendimentos e construções de fraco enquadramento urbanístico, paisagístico e altamente prejudiciais a nível ambiental. O insólito é que estas construções são feitas em nome do desenvolvimento económico e da “modernização” da nossa região e até do nosso país, mas que afinal de contas “matam” as características naturais e paisagísticas que o turista de qualidade procura e que torna o Algarve tão “apetecível”.
Se esta filosofia de desenvolvimento económico continuar, o futuro das nossas praias será muito preocupante quer em termos ambientais, através da destruição e da descaracterização da faixa costeira, quer em termos económicos, com a fuga de turistas de qualidade e ambientalmente responsáveis para locais paisagisticamente mais agradáveis, abrindo completamente as portas do Algarve ao turismo de massas que tem um menor poder de compra.
Para combater este cenário nada animador, torna-se fundamental criar e sobretudo aplicar políticas correctas e concretas de ocupação do território, tendo sempre em atenção que as obras fixas e pesadas de defesa costeira têm por vezes consequências desastrosas no equilíbrio destes sistemas se não forem correctamente estudadas e planeadas.
Só assim se poderá criar num futuro próximo um padrão de ocupação racional da faixa litoral e que se promova um correcto desenvolvimento sustentável, respeitando e valorizando os parâmetros ambientais típicos do litoral pondo termo ao processo de ocupação desordenado que tem afectado o Algarve sobretudo nos últimos 50 anos.
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