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Há uma questão essencial que preocupa ou, pelo menos, deveria preocupar os jovens de hoje.
Tem o nome de Endividamento.
E endividamento decorrente de investimentos públicos megalómanos de governos acéfalos.
É pura e simplesmente inadmissível que, face aos insustentáveis níveis de endividamento do país (Estado e famílias), com enormes défices (orçamental e da balança de pagamentos do país), o Governo assuma compromissos que implicam um acréscimo substancial da dívida, pública e privada.
E não é preciso ser nenhum génio para descodificar que tipo de investimentos públicos estamos a falar. Não, não é de infra-estruturas básicas, águas e saneamento que, pelos vistos, estão na ordem do dia para os lados do Terreiro do Paço.
São obras de custos avultadíssimos e de escassa rendibilidade, conforme estudos técnicos comprovados.
A questão que se coloca é somente esta: Quem é que vai financiar e suportar este endividamento desmesurado?
O financiamento será, naturalmente, obtido, por meio de recurso a empréstimos que terão que ser pagos pelas gerações futuras, ou seja, nós, através de um maior endividamento externo.
Não obstante a gravidade da situação, é não menos desolador saber que a natalidade está a decrescer e que a esperança de vida está a aumentar, o que consustancia um decréscimo de jovens por oposição a um acréscimo de idosos, levando a que a população activa de amanhã, ou seja, nós, seja aquela que irá ficar com o seu futuro totalmente hipotecado, mercê do autismo de governantes com a mania das grandezas e sem resquícios de sensibilidade política macroeconómica.
A questão justifica-se, essencialmente, por esta razão.
A oportunidade destes projectos de hoje tem que ser avaliada nas condições de “hoje”, isto é, tendo em conta os benefícios e os custos aportados às gerações que partilham os seus custos (incluindo os de oportunidade).
E se o juízo poderá ser fácil no que se refere à “geração contemporânea” da decisão, já é mais difícil no que se refere a Nós, geração futura “por conta de quem” se pretende justificar a obra.
É que, enquanto a primeira tem a oportunidade de ser parte da escolha (pelo menos em regime democrático), legitimando as consequências que tenha que suportar, a segunda será confrontada com as consequências – favoráveis e desfavoráveis – da escolha feita pela geração anterior, ainda que invocando o seu interesse.
Perguntar-me-ão: Qual é então a solução para a questão do endividamento?
Ora, para além da reavaliação de infra-estruturas prioritárias e reescalonamento das dívidas, deveria apostar-se na promoção da poupança nacional, por forma a canalizá-la tanto para o investimento produtivo, como para o pagamento das dívidas.
Neste sentido, o Estado, em vez de pensar em gastar mais, deveria dar o exemplo, ao conceder benefícios fiscais à poupança e ao investimento.
Em vez de investir em projectos megalómanos, deveria concentrar-se em ajudar as famílias em dificuldades, bem como em auxiliar a competitividade fiscal das empresas.
Acima de tudo, o Estado devia compreender que continuar a apostar numa política de betão sem sentido é não só contraproducente, como também agravará ainda mais o grave problema do endividamento nacional, em claro prejuízo para nós, enquanto geração futura.
Impõem-se a questão: Alguém nos perguntou alguma coisa?