terça-feira, abril 29

POLÍTICA

Somos todos responsáveis por tudo, perante todos
Dostoievsky


Já Platão, na sua divisão inovadora retomada a posteriori por sistemas aristotélicos e pós-aristotélicos das ciências filosóficas, cria por entre a metafísica, epistemologia, ética, estética e pedagogia, a política. Política esta que se torna numa ideia estruturante da sociedade moderna, pelas mãos de Aristóteles ao proferir a célebre e inexaurível frase “o homem é um animal político”, pois a comunidade política brota necessariamente de uma inclinação para sua mesma natureza.

À guisa de uma sistematização, política é tão-somente uma arte de administrar a polis, que por condicionalismos eminentemente indeclináveis leva a pessoa ao poder, poder mais do que substantivo, em verbo adquire a força do poder fazer através de uma retórica pujante e persuasiva. Ora, se ao regular a polis, se associa a ideia de Estado dotado de ius imperii, id est, de competência para fazer valer as suas deliberações, também inferimos que o poder que lhe está adstrito é limitado pelas suas mesmas vinculações e que este mesmo Stato moderno, segundo teses weberianas, mais do que o monopólio da força física, é um todo organizado racionalmente, onde a racionalidade é a burocracia profissional.

Dito isto, avancemos para o plano axiológico da questão, encarando política como muito mais do que uma noção maquiavélica de arte de conquistar, manter e exercer o poder, mas onde também a pragmática valorativa lhe está intrínseca na génese, pois já Shakespeare cogitava que a “política está acima da consciência” e eu apenso, que para além de estar acima da consciência, política tem que estar acima da subconsciência e mesmo da pura inconsciência, em sentido informal, onde a natureza humana faz revelação verídica que os Homens não são “nem sociáveis nem em posse de brandos costumes”, segundo Epicuro, mas antes egoístas e defensores dos seus próprios interesses. Assim sendo, a política tem que ser a “regulação dos egoísmos”, dizia André Comte-Sponville, já pressagiando os jogos de interesses privados que hoje predominam na praxis política e a desacreditam, fazendo dela a ginástica acrobática que alguns mentecaptos praticam para atingir os seus fins. É cada mais complicado de rememorar que política nunca foi desporto, mas sim uma arte ou ciência, quando proliferam atletas de alta competição, ávidos de troféus e desprovidos de essência e os “artistas” se apartam para um mundo mais atilado das ideias, desiludidos com a desmoralização do sistema.

Ainda quero acreditar que há quem esteja na política por valores e não tenha medo de erguer a voz por causas. E que a política é mais que pessoas, caras, vozes, sorrisos, contextos adaptados, discursos repetidos e exaustos de si em palmas limitados e a vera política são convicções, ideias, projectos, esforço, trabalho e acima de tudo coragem de ter sonhos maiores que as mãos, mesmo sabendo que “Eles não sabem, nem sonham/ Que o sonho comanda a vida/ Que sempre que um homem sonha/ o mundo pula e avança”; eles podem não saber e permanecer em errantes jogos volúveis de maratonas sôfregas de poder vazio de si, podem nem ponderar que as “leis” éticas transcorrem as políticas, mas o Horácio dentro de nós sabe que leges sine moribus vanae e é por isso que as almas volíveis de mudança acreditam que haverá “sempre alguém que resiste” e “sempre alguém que diz não”…

Filipa Correia da Silva
JSD/Faro

1 comentário:

Anónimo disse...

Para provar o que afirma nada melhor fazer como eu fiz.
Vá a uma assembleia municipal de faro.